quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nova dramaturgia

Antes de começar o Satyrianas, a gente pensa que vai conseguir ver tudo, se esbaldar, entrar de peça em peça, mas não é bem assim... Outras coisas acontecem, encontramos os amigos, ficamos de papo para o ar, cansamos, temos que ir para casa recuperar as energias...

Até que fui esforçada. No total, assisti a dez apresentações, entre cenas curtas, performances e montagens. Engordei um quilo também, mas deixa isso para lá...

No Dramamix, por exemplo, espaço onde são encenados textos de novos dramaturgos (este ano foi na Augusta com a Caio Prado, por conta da reforma da Praça), estive presente em três. Vou falar de dois deles, que foram os que eu gostei.

No primeiro dia, vi um monólogo da atriz Clara Carvalho sobre uma mulher com pouco mais de cinquenta que nasceu numa família tradicional e muito rica e, predestinada para tal, casou-se com um homem também muito rico.

Ela fala sobre os trinta anos de uma vida de ilusão, em que foi poupada de tudo aquilo que não fosse perfeito. “Eu morava na Rua Dinamarca, na casa de muros mais altos. Conheci o país antes de conhecer a rua”. O nome da peça ("Algo de Podre") é uma brincadeira com a frase dita por Hamlet: "há algo de podre no Reino da Dinamarca".

No decorrer dos anos, ela é poupada inclusive da derrocada financeira que seu marido vive às escondidas. Afinal, negócios não são coisa de mulher...

Só depois das três décadas, eles se separam e ela sai da redoma onde foi criada, quando se vê “assustadoramente humana”. E também assim o enxerga. Só então sente "nojo das noites da desculpa do pocker e da falta dos carinhos que não podiam ser substituídos pelo cartão de crédito".

Um drama bem contemporâneo num texto inteligente e ótima encenação. Bem direta, sem frescura, sem firula... Num tom de desabafo um pouco resignado. Legal para caramba! Escrito por Flávio Goldman e dirigido de Aimar Labaki. 

No segundo, assisti a uma performance chamada “Homem n'Água”, texto de Claudia Shapira, dirigido por Luciana Ramim e interpretada pelo Paulo Gourlard Filho e pela Thais Homsi Brandeburgo.

Vou confessar que é uma daquelas peças que a gente entende pouco e mesmo assim adora, porque toca. E também porque o texto é leve, poético e muitíssimo bem construído, e a cena esteticamente linda.

Os corpos dos atores foram protagonistas de um balé de lama, enquanto eles falavam da origem do homem e da força criadora da mulher, por meio do encontro animal entre o feminino e o masculino.

Esta apresentação adoraria ver de novo, até para - da próxima vez - prestar mais atenção e escrever algo à altura. Por enquanto, é isso. Imagens no Fotomix. Obrigatório ver!