segunda-feira, 11 de julho de 2011

Platéia em cena

Eu nunca conheci um bom ator que não tivesse paixão pelos palcos. Não só ator, mas qualquer profissional do teatro. É uma força maior, um vício, uma espécie de loucura. Tem até expressão para isso, que é ser picado pelo "bichinho".

O cinema e da televisão podem ser muito excitantes, mas a viagem maior está lá, no teatro, na arena perfeita do sagrado e do profano. Do prazer e do sacrifício. Onde se fala da dor para falar do amor. Onde o expurgo nunca é gratuito: ele jorra, agride, mas sempre em função de. Onde o desespero é bem-vindo, ganha forma e cor.

Mas por que só o teatro é assim?  É uma resposta cheia de várias outras. Tem nuances e um terreno vasto de discussão. Mas uma delas é simples e certa: a relação com a platéia.

É ela que, em boa parte, "decide" o que vai acontecer em cena. Não é à toa que os atores comentam entre si no camarim depois das apresentações: "hoje o público estava difícil", "hoje o público estava gostoso", e por aí vai.

Só nessa relação que o espetáculo é construído, porque são humanos que se reúnem para falar da sua própria condição. E é só na presença que esta troca se concretiza. É só nesse encontro que forças do inconsciente coletivo, da história da humanidade e da nossa ancestralidade são evocadas com frescor, sem nenhuma tela no meio.

Mas tem dia que é cruel. Ou porque o crítico está lá (então a tensão aumenta) ou aquele "mala" cujo objetivo é encher o saco e ficar olhando no relógio (então a raiva aumenta). A persona do ator que está ali quer morrer de catapora preta, mas o artista dele respira fundo e diz "vamos lá, esse é meu trabalho, é para isso que estou aqui".

Não estou aqui tentando defender a classe nem romantizar a experiência. Só estou descrevendo momentos em que a exposição é tão grande que a pessoa que está ali no palco (um trabalhador como outro qualquer) tem que colocar a alma na última gaveta da cômoda. Tirar a roupa em cena é fichinha. Quero ver dar um monólogo de Shakespeare para um cara que está mais preocupado com sua pipoca.

O contrário também é verdadeiro. Quando a platéia está presente e respeita, a coisa parece que rola, é uma questão de energia. Se o ator não vai bem, a culpa é dele mesmo. Se o público, além de respeitar, é alegre e receptivo, aí vira festa. No geral o elenco fica mais leve para fazer bem feito.

Tudo bem que não é uma regra geral. São conclusões puramente empíricas e até grosseiras. Mas eu queria compartilhar para, logo mais, falar o que se passou pela minha cabeça e pelo meu coração quando eu vi a peça "45 minutos" há duas semanas atrás. Juro que conto em breve.

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Sim. Eu voltei a atualizar o blog. ;-)

Até!

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